Série "Reflexões Pessoais", Nº 29
Terrivelmente inominável. Estas foram as palavras que usei depois de assistir ao vídeo do bravo Cabo da Polícia Militar, Marcos Marques da Silva, tombando morto após ser assassinado a tiros por integrantes de uma quadrilha de assaltantes de banco que agiram em Santa Margarida-MG. Além dele os criminosos também mataram um vigilante do Banco do Brasil e fizeram dois reféns como escudo humano durante a fuga. Fato este que, muito provavelmente, levou o Cabo da PM a não atirar e, consequentemente, ser fatalmente atingido.
Talvez a ausência de palavras que me ocorreu para descrever a filmagem aterradora do PM desfalecido no chão enquanto o seu sangue - o preço mais alto da bravura - irrigava a terra, seja em decorrência do fato de que, assim como ele, também sou policial da mesma corporação e da mesma graduação. É inegável que o ocorrido causou profunda impressão em mim. Mas sei que a morte do Cabo Marcos é uma trágica oportunidade de ressaltar um pouco das muitas coisas que estão realmente indo muito errado em matéria de segurança pública no Brasil e uma forma de honrar o seu heroico sacrifício.
Tirar a vida do próximo por causa
de dinheiro é uma conduta execrável de altíssima reprovabilidade social. Por
isto crimes bárbaros como o ocorrido em Santa Margarida sempre foram, são e
continuarão sendo capazes de fazer aflorar em meio à sociedade o natural desejo
do sangue dos criminosos. Em tempos de outrora seria aberta uma verdadeira
temporada de caça aos malfeitores que terminaria, caso algum deles fosse
capturado vivo, em um pequeno espetáculo em praça pública de tortura até a
morte. Apesar de nenhum indivíduo normal desejar o retorno dos shows de flagelo,
com certeza grande parte da população de bem deseja de maneira correta e ponderada
que bandidos perigosos tenham prêmios postos pelas suas cabeças e que possam
ser condenados, após um julgamento justo, à pena de morte.
Isso não é uma questão de
vingança, mas sim de justiça. Afinal é injusto que a coletividade seja exposta
ao risco de conviver, por exemplo, com um assassino frio que já matou por
motivos torpes, somente porque a escória intelectual empossada acredita na
recuperação e reinserção de qualquer tipo de criminoso em meio à sociedade. Hodiernamente
muitos são os que procuram, por intermédio do direito, humanizar facínoras que fazem
as vezes dos vermes, se alimentando da carne dos seus semelhantes (até mesmo de
forma literal). Chamar isto de direitos humanos é um expediente que jamais será
aceito pela população de bem, simplesmente porque é desumano e contrário a
própria lógica da realidade.
Não há palavras capazes de
defender o indefensável. Todavia, a tentativa insana de fazê-lo faz emergir uma
legítima indignação muito maior do que qualquer crime bárbaro pode provocar. Pois
a maldade é algo que está presente ao perpassar de toda história humana. A
defesa do mal, contudo, é uma deformação monstruosa, um corpo extravagante capaz
de fazer multiplicar o abscesso da perversidade e, inclusive, esta realidade
fica ainda mais clara ao ouvir-se o áudio do companheiro do Cabo Marcos
afirmando que ele está deixando para trás a sua família e que só não efetuou o
disparo por medo de ser punido. Em suas próprias palavras: “a gente (policiais) é tão cobrado, é tão massacrado, que o cara de medo não pode agir”.
Definitivamente, a arma do
policial está pesada demais. Qualquer soldado que vai para a guerra pensando em
problematizações maiores do que a vida e a morte, que tenha que se preocupar
com a manutenção do emprego que provém o sustento da sua família ou, até mesmo,
na manutenção da própria liberdade, está fadado à hesitação. E na guerra quem
hesita, morre! Não adianta virem com relativismos eufemistas: “o policial não
deve matar o inimigo, mas sim prender o infrator”, pois qualquer pessoa
mentalmente sã sabe que existe uma abissal distância que separa o criminoso
comum dos quadrilheiros muito bem armados e mortalmente dispostos à prática da
pilhagem.
A pior implicação do
politicamente correto é que ele impede que as coisas sejam adjetivadas pelo que
elas realmente são. Se não há diferenciação entre inimigo e criminoso comum, o
tratamento para aquele passa a ser o mesmo dispensado para este.
Invariavelmente o resultado será a guerra assimétrica, com um lado tendo total
liberdade de ação, enquanto o outro, neste caso à polícia, está restrito as
amplas amarras jurídicas, sociais, corporativas e psicológicas. Não se trata de
aumentar-se a pena categorizando as ações de inimigos da sociedade – que nem os
que assassinaram o Cabo Marcos – como crimes hediondos, mas sim de se
estabelecer uma verdadeira licença para matar. O policial deve ter total
liberdade para eliminar toda e qualquer pessoa que esteja agindo com ânimo
mortal, pois é no mínimo imoral exigir-se que um agente da lei não aproveite
uma janela de oportunidade para alvejar pelas costas um criminoso que leva o
caos com armas em punho, apenas porque alguns aloprados podem argumentar
juridicamente que isto não seria caso de legítima defesa.
E engana-se grandiosamente quem
pensa que os argumentos que tracei até aqui podem servir para o radicalismo, já
que existe um exemplo notório de país mais desenvolvido, com qualidade de vida
muito superior ante a do Brasil e que foi fundado através do segundo grande
momento histórico dos direitos humanos: a Constituição dos Estados Unidos de
1787. E, mesmo assim, na América é permitida a legítima defesa da propriedade,
policial é herói, senta o dedo na bandidagem, os piores destes têm a cabeça
posta à prêmio e existe prisão perpétua e pena de morte em diversos Estados. É
realmente uma pena que em algum momento ao decorrer da história, os ideólogos
do mal tenham tomado de assalto os direitos humanos e os transmutado na defesa
intransigente de todo o tipo de absurdidades. Entre elas, a ideia irracional de
que o criminoso é um coitado que não teve educação e oportunidades financeiras.
Como se ser bandoleiro fosse coisa de gente pobre. Ideia esta que, per se, é um tremendo desaforo contra cada
pobre honesto e de vergonha na cara.
Outro problema gravíssimo é a
labiríntica e engessadora burocracia que faz com que a polícia tenha gigantesca
dificuldade de adquirir armas de fogo de calibre mais pesado. A origem deste
grave problema não veio do Regime Militar, mas sim das mãos do verdadeiro
ditador brasileiro, Getúlio Vargas. Sobre este ponto específico segue o enxerto
do livro Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento, de Flávio Quintela e do sempre
pertinente Bené Barbosa:
“Getúlio Vargas ainda enfrentaria mais uma situação de
confronto bélico, na revolução de 1932. Mas desta vez seria contra o estado
mais rico da federação, São Paulo, que contava com uma força policial equipada com
fuzis Mauser, metralhadoras Madsen, carros de combate, canhões e até mesmo
alguns aviões de guerra. Além da Força Pública do Estado de São Paulo, os
paulistas contavam com todas as organizações
militares do exército brasileiro sediadas em seu estado, e com a ajuda de
milhares de voluntários, que levaram suas próprias armas para o campo de
batalha. Depois de 87 dias de duros combates, o governo de Vargas conseguiu
vencer a guerra paulista, encerrando assim o último conflito armado ocorrido em
território brasileiro. Mas a mensagem que ficou é muito clara: os paulistas não
teriam sequer ousado levantar-se contra a ditadura de Vargas sem o armamento
que tinham. Pouco tempo depois, em 6 de julho de 1934, o governo baixou o
Decreto 24.602, criando as restrições de calibres e de armamentos, tanto para
os cidadãos civis como para as polícias. É por conseqüência desse decreto que
as polícias estaduais necessitam hoje da permissão do exército para comprar
fuzis e armas de maior calibre, e freqüentemente combatem os criminosos com
equipamento inferior em poder de fogo. No Brasil de hoje os criminosos não têm
medo da população – que não possui armas – e não têm medo da polícia – que
possui armas inferiores. Tal legislação, atualizada e ampliada, encontra-se até
hoje em vigor e é conhecida por atiradores esportivos e colecionares de armas
por “R-105”. Deve-se dizer que, dentre os países democráticos, o Brasil é
provavelmente o único onde a fiscalização e regulamentação do Tiro Esportivo e
do Colecionismo de Armas são feitas pelo Exército."
Por
último, mas não menos importante, é necessário lembrar de duas célebres frases
históricas, uma atribuída ao reverendo Martin Luther King e a outra do ativista
dos direitos humanos (os verdadeiros), Victor Hugo, respectivamente: “O que me
preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons” e “Quem poupa o lobo
sacrifica as ovelhas”. A sapiência destas afirmativas ensina que todo aquele
que se silencia diante da injustiça, com ela compactua. Por mais que seja
abjeto que os maus façam maldades e que malditos pervertidos tentem defender o
indefensável, não há nada capaz de causar mais asco do que ver uma pessoa boa
se calar no momento em que ela deveria estar esbravejando, pois é a inação o
que desequilibra a balança do destino fazendo com que o progresso da malignidade
seja tão perceptível ao ponto de quase poder ser tocado. Portanto, que as vozes
do bem se façam ouvir em alto e bom som para que o sacrifício do Cabo Marcos,
herói tombado, seja um marco de sanidade e um verdadeiro ponto de inflexão para
livrar o Brasil da letargia diante das mais de 70.000 mortes anuais que clamam
aos céus por justiça!
Estamos todos nós, com um gosto amargo e com um misto de angústia, mágoa, revolta e ódio aqui preso na garganta e dentro do coração. Não há palavras que descrevem tudo isso que cada um de nós que carrega o TIRADENTES no braço esquerdo, e todas as outras milhares e milhões de pessoas íntegras, honestas e tementes à Deus possam estar sentindo. Que todo esse turbilhão de sentimentos ruins possam ser canalizados da melhor forma possível, que DEUS lhe faça a merecida justiça no tempo certo. Vá com Deus IRMAO DE FARDA....
ResponderExcluir"Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé."
2 Timoteo 4