terça-feira, 27 de novembro de 2018

Carta: "Embora isso não diga nada."

Série "Cartas Perdidas", Nº 29


Porto União/SC, 27 de Maio de 1998

Embora isso não diga nada, você nunca foi substituída!

Isso é fato, mas isso não diminui a magoa que existe entre nos e foi difícil de a gente poder digerir. A questão é que você sempre achou e pensou muitas coisas, factoides, a principal delas é um conto que “eu te substituí", mas isso não e verdade, e vou explicar.

Você e uma pessoa bastante complicada e cheio de ideias conspiracionistas, mas a questão é que eu nunca fiz jus a toda essa paranoia maluca!

Eu te odiei demais, e ainda te odeio, por todos esses boatos. Eu te magoei, mas você também me magoou de uma forma inversamente proporcional. Nenhum ódio foi gratuito, eu te odiei da mesma forma que te amei.

Então você acha que eu me reconstruí, e existe outra pessoa na minha vida, que eu já tenho filhos, e que minha vida se refez... E de fato não há. Nunca houve!

Você é algo que não é você mas algo da minha cabeça. Representa meus medos e desejos. Você não é você nos meus sonhos, é uma imagem que eu projeto.

Eu nunca te substituí! Seu lugar ainda está aqui, nunca deixará de ser seu!

Embora isso não diga nada.

"Talvez bastasse respirar
Só respirar um pouco
Até recuperar cada batimento
E não procurar o momento
De ir embora"






sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Houve tempos

Série "Poesias e Devaneios", Nº 48


Houve tempos em que passava na praça
Te via no fundo de uma galeria
Sentada em uma mesa branca metálica
Tomando milk-shake de baunilha

Houve tempos em que no mundo rodava
Aprendia um idioma estranho
Conhecia um país inexistente
Só pra tentar te achar

Houve tempos em que te temia
Em que você não era luz
Era sombra e pura treva
Que me perseguia com maus intentos

Houve tempos em que você se transmutava
Se transformava em qualquer outra pessoa
Se fluía em si e sua aparência
Para então tua beleza abandonar

Houve tempos em que eu flutuava
Voava naturalmente como um pássaro
Para em cima do telhado pousar
E de você me esconder

Houve tempos em que meu mundo era mais simples
Era cristalino cor de diamante
Junto com ti tudo cristalino
Assim adveio enorme turbidez

Houve tempos em que na minha casa você morava
E minha casa era sua
Somente sua e nunca minha
E eu era visitante ou invasor

Houve tempos em que eu chorava
De ódio por você eu me contorcia
Te odiava por sua existência
E mil lagrimas minha face escorria

Houve tempos em que eu te amava
Em que você também me amava
Onde tudo isso era fato
Onde natural tudo seguia

Houve tempos em que esse mundo
Não convergia com o mundo dos sonhos

Houve tempos em que meus sonhos
Não eram mais reais que a realidade
Que hoje a vida vivida
Se confunde com a vida sonhada

Houve tempos em que
Saudade não era tangível
Não como hoje
Não como agora


A Esperança não murcha, ela não cansa, 
Também como ela não sucumbe a Crença, 
Vão-se sonhos nas asas da Descrença, 
Voltam sonhos nas asas da Esperança.